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  • tatiana messer rybalowski

Upcycling: um reuso criativo

Atualizado: 2 de mai. de 2020


O Brasil é um país muito rico e a cultura do desperdício sempre foi muito presente.


Quando pequena, quando ia à casa de amigos, estranhava a quantidade de alimentos que eram oferecidos e (consequentemente) jogados fora. Em casa, adotávamos práticas diferentes, pois meus pais atravessaram uma guerra, e entendiam muito bem o valor das coisas.

Vivi momentos que meus costumes geravam certo estranhamento e a minha parcimônia às vezes era confundida com avareza.

Quando os movimentos de globalização do século XX evoluíram, quando a “aldeia global” fez com que diferentes culturas se conhecessem melhor, houve uma maior comunicação de hábitos e necessidades. Devido à exuberância do país, o brasileiro havia desenvolvido uma falsa ideia de que recursos naturais eram inesgotáveis e, como consequência disso, podiam ser desperdiçados.

Um dos efeitos da globalização - a diminuição do tempo e espaço - no entanto, fez percebermos que o planeta é um só, que determinados excessos não eram mais pertinentes. A perspectiva da finitude de recursos naturais já se apresentava e as consequências seriam de todos.

Paralelamente, o consumo que em pouco tempo se transformou em consumismo, fez com que o volume do que era descartado já não tivesse destinos adequados, isto é: aterros abarrotados, incineração e outras formas de se livrar do lixo se tornavam cada vez mais ineficientes.

A partir da conscientização de que as matérias primas eram esgotáveis, e que o volume de descarte estava se tornando incontrolável, foram pensadas algumas práticas que tinham por objetivo reaver o valor ao que anteriormente era considerado como “lixo”.

Todas visavam fazer o “lixo”, isto é, os materiais e produtos, voltarem para o ciclo produtivo, serem reciclados. Cada condição do material e produto se adequava a diferentes processos.

A Reciclagem (recycling) é a recuperação de um material ou produto para que possa ser reutilizado em um outro produto sem perder as suas características técnicas. O material é recuperado e se torna matéria prima para o mesmo produto do qual era feito originalmente.

As famosas latas de alumínio são o exemplo mais presente.

Já o Downcycling é o processo de recuperação de um material para reuso em um produto com menor valor, ou seja, a integridade do material é de certa forma comprometida com o processo de recuperação.

Por exemplo, o papel geralmente sofre uma perda de valor, já que não pode ser reciclado para produtos com a mesma qualidade ou característica. Geralmente é transformado em papéis para fotocópia, papel cartão e papel higiênico.

Upcycling é um processo que reinsere no processo produtivo produtos e/ou matérias primas com a vida útil esgotada em novos produtos de maior valor, uso ou qualidade. Isto é, transforma algo que já está no fim de sua vida útil em algo útil sem que precise passar pelos processos de reciclagem. O material é usado tal como ele é.

O setor têxtil e vestuário é um setor que tem um enorme desperdício de matérias primas. De 20 a 30% de tecido é descartado no processo de corte uma peça; 70 a 80% dos tecidos que se transformam em roupas não estão livres de serem descartados sem nunca terem sido usados; um caminhão de lixo têxtil é jogado em aterros sanitários ou queimado a cada segundo no mundo.

Esses números são avassaladores e mostram uma realidade que tem que ser modificada. Urge que haja uma reavaliação das formas de produção e consumo.

Hoje há muitos R´s para que tenhamos ferramentas para evitar que esses números nos conduzam para um futuro incerto.

Repensar os hábitos, recusar produtos fabricados por empresas que não respeitam a natureza ou prejudiquem o meio ambiente; reduzir gastos e consumo; reparar, consertar; reutilizar; reciclar; reintegrar (compostagem, por exemplo).

A bem da verdade, foi a partir da ida ao estoque superlotado de uma marca de moda que a OAZÔ nasceu: era um universo de tecidos, couros e aviamentos que estavam encostados sem uso e “sem valor”. Matérias primas de excelente qualidade que acabaram desprezadas devido à (suposta) não possibilidade de emprego em coleções atuais.

Para mim, foi a oportunidade que me direcionou ao upcycling, trazendo uma segunda chance às sobras de materiais. No upcycling destes descartes, encontrei o prazer de criar, reinventar e reencantar.



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